- Área: 507 m²
- Ano: 2017
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Fotografias:Sebastián Crespo
Descrição enviada pela equipe de projeto. Desenhar uma residência para alguém é construir um retrato. O retrato de um ou mais seres humanos em sua relação com os outros e com o mundo. A Residência Ortega foi desenhada para um filho devoto. O requerimento era claro: um volume para os pais, outro para Raul e uma potencial família. Duas casas em uma: independentes e interconectadas. Dois elementos abertos que vinculam-se em um 8 horizontal, símbolo do infinito, do eterno retorno. Uma forma de desatar os laços sem rasgá-los é oferecer-lhes seu justo espaço. O social (cozinha, sala de jantar, estar) poderia ser compartilhado; o privado (habitações e banheiros) poderia ser separado. O ponto de partida foi, então, a montagem de duas peças de igual forma porém em diferente escala: um "C" que abraça um jardim para Raul, outro "C" que abraça outro jardim para seus pais. O primeiro recebe o sol da tarde e está orientado para a cordilheira que perfila seu horizonte, o segundo recebe o sol da manhã e está orientado ao interior. Pela natureza dupla da residência, a superfície da área privada, no segundo nível, superou a superfície da área compartilhada e semi-compartilhada, no térreo. Alguns muros inclinados diferenciam o volume adquirindo sua própria função e vida: um como biblioteca escalonada, o outro como jardim interno.
Quais seriam os materiais, as texturas? Raul administra, junto com seu pai, duas fábricas: uma especializada na manufatura de peças de madeira, outra na extrusão de envases plásticos para hospitais. Visitá-las foi memorável. A fábrica de madeira é um grande galpão bem iluminado, construído por Raul. A dos envases plásticos: um laboratório químico. A Residência Ortega deveria incorporar um caráter industrial: a estrutura seria de aço com uma lógica de montagem. Mas Raul não queria viver em uma fábrica. Cresceu em Sangolquí, um antigo vale agrícola repleto de fornos de tijolo, cuja fumaça negra marcava a caligrafia dos muros. A residência deveria ser um híbrido de fábrica e moradia rústica de campo, especificamente, de tijolo. Era imperativo que não se separasse do seu contexto.
E, o mais interessante para mim, visto que o gênero frequentemente está contra nós: a residência deveria ter "um toque feminino". Raul é um ser profundo. Ela é projetada não pensando em si mesmo, mas nos outros: seus pais e, algum dia, seus filhos, sua mulher. "Se trabalho como um homem, a casa será uma casa de homens, com muita energia yang", me disse. "Eu quero uma residência onde possam ser felizes também as mulheres e as crianças. Uma casa com sua dose de yin". Raul havia meditado antes de me escrever: queria que sua casa fosse desenhada por uma mulher.
A última vez que o visitei fui com meus filhos. Eles se apropriaram dela como uma fortaleza cheia de recuos e cantos onde se esconder e brincar.